segunda-feira, 3 de maio de 2010

E agora?

Ela sabia desde o início que um dia o cansaço abate e que os passáros param de cantar. Sabia que seria de repente, sem aviso, porque o começo também foi fruto do inesperado. A saudade que ela sentia do passado era o primeiro sinal de que o presente já não bastava. E tudo que antes era perdoável, latejava - ferida que torna a ser aberta sem conseguir cicatrizar. Tudo era erro, e o amor já não se bastava intransitivo. Exigia complemento... e como exigia. Era como o cavalo chucro que perde o brilho nos olhos depois de domado.
Por meses se sentiu como se tudo o que vivera antes a tivesse preparado para aquele homem. Aquele único homem... E se deu. Se entregou, se rasgou inteira só para que ele pudesse costurar cada pedaço do jeito que quisesse. Viveu por outra vida, viveu outra vida, viveu.
O amor que ela bebia a largos goles, a paixão que a deixava ébria, tornara-se um gotejar até quase o estio. Ela não queria o fim, mas não sabia como evitá-lo, e negava a todo custo a morte daquilo que se tornara a sua essência.
- E agora? - ela não parava de se perguntar.

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